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sábado, 16 de junho de 2012

A história de Zé Neco e do Chico Motorista

Deus abate os altivos e abençoa os humildes

Por Marcelo Crivella/Fotos: Thinkstock
redacao@arcauniversal.com

Já se vão mais de 30 anos que um fato triste sucedeu no agreste da Paraíba. Uma senhora com quatro filhos, cujo marido fora tentar a vida em São Paulo, lutava sozinha, com todas as forças, para sustentar suas crianças.
Viúva de marido vivo, semelhante a tantas outras no Nordeste brasileiro, aquela pobre mulher trabalhava para Zé Neco, comerciante "bem de vida", como se costuma dizer de quem desfruta de uma ambicionada prosperidade, e filho do prefeito da cidade.
Embora não fosse lá um bom emprego, era dali que aquela senhora, uma verdadeira lutadora, tirava todo o sustento para si e para seus filhos. Certo dia, por problemas de política local, a senhora foi despedida do emprego, sem a menor chance de apelação. Ficou desesperada. Lembrou-se dos quatro filhos que dela dependiam; da conta da vendinha; dos uniformes das crianças para a escola; das despesas com os livros e cadernos, e pensava: "Meu Deus do céu, como vai ser a nossa vida sem esse emprego?".
- Zé Neco, pelo amor de Deus! Você sabe das minhas crianças e que eu não tenho outro lugar para trabalhar! Você não pode me despedir! — implorava ela.
Zé Neco foi implacável. Sem pestanejar, disse: — Aqui a senhora não fica mais e fim de papo!
"Vão-se os anéis e ficam os dedos", é o que dizem os pobres quando a desventura lhes bate à porta. A pobre senhora chorou durante todo o caminho de volta para sua casa. Chorou pensando nas crianças, mas a vida continuou, e Deus é maior.
A duras penas, passando inúmeras necessidades, sem falar na fome que, vez por outra, batia à porta da humilde casa daquela família, os filhos cresceram e um deles seguiu o sonho do sertanejo: vencer na cidade grande e tirar a família do sertão.
Francisco, o filho caçula, arrumou seus parcos pertences em um saco, despediu-se da mãe e pôs os pés na estrada, com destino ao Rio de Janeiro. Só Deus sabe o quanto sofreu! Sem profissão, sem amigos ou parentes na cidade grande.
Chico era apenas mais um em meio a tantos solitários em busca do sucesso. Desempregado, sem moradia e sem alimento, durante muito tempo perambulou pelas ruas da Cidade Maravilhosa, empurrado apenas pelo desejo de um dia ajudar a família que deixara para trás.
Deus é Pai e Chico foi para frente. Finalmente conseguiu seu primeiro emprego. A exemplo de tantos nordestinos sem uma especialização foi trabalhar na construção civil.
O primeiro salário foi recebido como um verdadeiro milagre. Com ele, Chico pôde entrar em um botequim, chamado pelos cariocas de "pé sujo", devido às poucas condições de higiene do local, e pagar seu primeiro almoço.
Depois, aprendendo aqui e ali, o rapaz foi tratorista, segurança e, finalmente, motorista de ônibus. Juntou dinheiro, comprou uma casinha e voltou lá para o agreste, para buscar a mãe, que nunca mais teve notícias do marido, desde que este também partira para a cidade grande.
Deus ajudava e Chico ia prosperando. A vida agora na cidade estava muito diferente da sua sofrida chegada. Casado, com filhos e na companhia da mãe, tudo era muito, mas muito melhor, que a infância no sertão.
Foi um dia, quando Chico dirigia o ônibus 326, da Viação Ideal, itinerário Castelo-Bancários, na Ilha do Governador, que o trocador, aborrecido, gritou da traseira do veículo:
- Ô Francisco, vê se faz alguma coisa, que esse sujeito já está me tirando a paciência!
Chico, pelo retrovisor, viu que se tratava de um homem bêbado, desses bem chatos, querendo por todo jeito arrumar uma briga com o pobre do trocador, e não titubeou: acelerou o que podia e, em seguida, passou uma "segundona", reduzindo a velocidade e fazendo o brigão vir "despinguelado" da roleta, até cair estatelado no capô.
Quem era o trapalhão? Para surpresa de Chico era o Zé Neco! O moço "bem de vida" lá do agreste, aquele que despedira sua pobre mãezinha, completamente fora de si, mais bêbado que um gambá.
No ponto final, Chico recolheu o ônibus à garagem e, na sua Variante, levou Zé Neco, desacordado, para sua casa. Lá chegando, sua mãe quase não conseguia acreditar. Era ele mesmo, o Zé Neco! Já não o viam há muito tempo, mas ainda assim não havia dúvidas.
O pobre infeliz, todo sujo, fez suas necessidades físicas com roupa e tudo, e dormiu como se morto estivesse. Muitas horas mais tarde, acordou e, para seu espanto, estava na casa da família à qual havia causado tantos infortúnios quando despediu a mãe, havia muitos anos, e que agora o tratava com tanto amor.
- Ô Zé Neco, lembra-se da gente? — perguntou a senhora, já abatida pela idade.
O homem estava muito embaraçado; na verdade envergonhado. Afinal, o rapaz importante, o filho do prefeito, foi encontrado caído, em péssimo estado, e recolhido justamente pela família em que tanto pisara. Foi levantando, ajeitando a roupa e, com poucas palavras, se mandando.
- Zé Neco, toma um café antes de ir! - ofereceu a senhora.
Que nada! O homem já se ia porta afora, para sumir em poucos minutos.
Não é isso que sempre lemos na Palavra de Deus? Que Ele abate os altivos e abençoa os humildes?
Francisco conheceu Jesus e hoje é bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, o bispo Francisco de Assis, que já passou pela África e tem até CD gravado.
Durante muitos anos, nutriu o desejo de matar o próprio pai, quando o encontrasse, por tudo o que fizera a família sofrer, abandonando a todos no sertão. Após seu encontro com o Senhor Jesus, teve realizado seu desejo de reencontrá-lo, só que para lhe dar um grande abraço, perdoando-o em seu leito de morte.
A dedicada senhora já partiu. Está lá no Céu, com Jesus. Zé Neco? Bem, esperamos que tenha tomado juízo.

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