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quinta-feira, 17 de maio de 2012

As quatro pétalas da Rosa

Pétala 2 - Ana Rosa

Por Jaqueline Corrêa / Foto: Thinkstock
jaqueline.correa@arcauniversal.com
As quatro pétalas da Rosa narra a história de quatro mulheres que se conhecem parcialmente, e que possuem, além do nome, outra coisa em comum: a violência doméstica. No entanto, uma não conhece esse segredo da outra e, por sofrerem caladas, acabam tendo finais completamente diferentes. As quatro pétalas são as quatro mulheres representadas por uma das mais significativas flores que existem, a rosa. As pétalas formam um todo, mas, individualmente, e sem proteção, são fracas e morrem.

Quando Ana Rosa ouviu a palavra ”desgraçada” pela primeira vez, tinha oito anos. Foi na sala de casa. Porque era neste pequeno cômodo que ela sentava para assistir tevê antes de ser agredida – quase diariamente. Por isso, não poderia ter sido em outro lugar, nem em outro dia. Era uma sexta-feira.
Ana Rosa abriu a porta assim que alguém deu os três toques ritmados e mais dois pausados, como de costume. Ela já sabia de quem se tratava. Abriu a porta e não sorriu. O semblante caído de menina triste denunciava o seu sofrimento mudo.
– Mãe, “ele” chegou. – Falou baixinho para Maristela, que estendia a roupa no quintal.
De volta à sala, Aninha, como era carinhosamente chamada, sentou-se novamente em frente à televisão. Sempre no chão, já que o único sofá ficava restrito às visitas. Essa, em questão, era o namorado da mãe, que Aninha já não sabia mais se era o terceiro ou quarto só naquele ano. Não que Maristela fosse uma mulher promíscua, mas não conseguia se firmar com homem algum. O primeiro, depois que o pai da menina morreu em uma briga de bar, conheceu em uma festa que acontecia próximo de casa. O relacionamento não durou muito, porque tudo o que ele gostava de fazer era apostar e beber. O segundo, que conheceu três meses depois, acabou traindo-a com a sua manicure. E o terceiro... bem, o terceiro, Aninha não lembrava. Isso porque nunca o viu, mas sabia de sua existência, porque sempre ouvia a mãe conversar com uma amiga sobre ele. Depois, ela soube que ele nunca aparecia porque era casado.
Já agora este último, Aninha, talvez, jamais esquecerá.
Em frente à tevê, Aninha percebe um leve vulto de mão passar pelo seu braço. Ela se arrepia e se afasta para frente. O desenho na tela já não tem mais importância. Aninha se sufoca com aquela “perseguição” já iniciada havia dias.
Novamente, sutis roçar de dedos tocam o seu braço. Ela se assusta e, num ímpeto de se levantar correndo, tropeça com violência, e para não cair, equilibra-se na parede, derrubando o quadro preferido da mãe, uma imitação barata da “ A Última Ceia”, de Leonardo da Vinci. Não era apenas pela moldura, que lembrava tranças pintadas de ouro queimado, nem pela pintura em si, ou por Jesus que parece estar preste a revelar seu traidor, mas pela forte recordação da mãe, a que o quadro remetia. Uma das poucas coisas que ainda sobraram da parca “herança”.  
Quando Maristela viu, imediatamente fechou os olhos, colocou uma das mãos na cabeça, a outra na cintura, depois cerrou os lábios e, como se quisesse trancar dentro de si o que não queria falar, não aguentou e soltou:
– Olha o que você fez, sua desgraçada!
Naquele momento, Aninha não entendeu nada do que a mãe havia falado. Não compreendia aquela palavra feia, dita com tanta veemência, mas sabia que não podia ser uma coisa tão boa, porque a forma desprezível como a mãe falou tinha o mesmo jeito de quando praguejava às moscas que rodeavam as panelas.
Esta foi a primeira vez que ouvira. A segunda, porém, não demoraria muito.
Continua na próxima quinta-feira...

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