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segunda-feira, 20 de agosto de 2012

As quatro pétalas da Rosa

Ana Rosa: aquele mau presságio, que tanto temera, finalmente lhe alcança

Por Jaqueline Corrêa / Foto: Thinkstock
jaqueline.correa@arcauniversal.com
As quatro pétalas da Rosa narra a história de quatro mulheres que se conhecem parcialmente, e que possuem, além do nome, outra coisa em comum: a violência doméstica. No entanto, uma não conhece esse segredo da outra e, por sofrerem caladas, acabam tendo finais completamente diferentes. As quatro pétalas são as quatro mulheres representadas por uma das mais significativas flores que existem, a rosa. As pétalas formam um todo, mas, individualmente, e sem proteção, são fracas e morrem.



Acordada pela madrugada, ainda atormentada pelo medo “daquele” homem, Aninha lembra aquelas mãos grossas e calejadas tocando o seu braço. Ela sente muito mais que um simples receio, mas um tipo de sentimento estranho, tenebroso, bem parecido com aqueles que as vítimas de filmes de terror sentem quando estão na presença de um psicopata apavorante. O medo da menina, no entanto, não é o de uma possível violência em si – muito mais do que isso, envolve uma possível rejeição da mãe por não querer acreditar em nada do que lhe disser.
Maristela, sempre empolgada com o alto volume das músicas que gosta de ouvir, não presta muita atenção nas necessidades da filha. Acredita que por já ter quase 10 anos, é uma “quase moça”, que não demorará muito a lhe dar o típico trabalho de uma adolescente.
Maristela, que vive com uma pensão mensal do primeiro marido morto, às vezes, quando deseja, arruma um trabalho de diarista no centro da cidade. E quando quer e consegue, com a ajuda de uma amiga, deixa a filha na casa do namorado – “a única pessoa em quem pode confiar”, orgulha-se.
– Aninha, hoje você vai ficar na casa do Frank, pois vou passar o dia inteiro no centro. Consegui uma faxina na casa de uma senhora...
E antes de terminar o pensamento, a menina pôs-se a redarguir com uma recusa angustiada, que pareceu à mãe uma ofensa... Não, pior: rebeldia – algo inaceitável a Maristela.
– Eu não estou perguntando se você quer ficar... Você vai ficar lá!
– Eu posso ficar aqui sozinha, mãe...
Já nervosa, visto que nunca demorava muito para se aborrecer, repentinamente lançou um palavrão para a menina, como se soubesse que apenas o extremo a faria calar de vez.

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Aninha, sem opção, seguiu com a mãe para a casa do namorado. Na porta, a irmã dele, Meire, as recebe com um sorriso breve. Aninha alarga o olhar para todas as direções, na esperança de não vê-lo, ou, talvez, vê-lo, para acabar logo com aquela aflição que já lhe dominara.
Maristela perguntou por ele:
– E o Frank?
Ao que Meire retruca secamente:
– Ele saiu desde cedo e ainda não voltou.
– Eu queria deixar a minha filha aqui, porque preciso ver um serviço lá no centro...
Na tentativa de convencer a “cunhada”, Maristela empurrou os lábios para dentro apertando-os forçadamente.
A irmã de Frank, mais por pena da menina, que não tinha onde ficar, do que pela falsa expressão de Maristela, concordou com a permanência. Porém Aninha, numa última prova, ensaiou mais uma súplica:
– Por favor, mãe, me deixa ficar em casa...
Mas, brutamente, aos gritos, a mãe devolve:
– Pra quê? Pra colocar fogo em tudo, do jeito que é desastrada?!
Maristela não queria saber de modos, principalmente porque não se importava em ser educada com a tal cunhada, que só conseguia engoli-la por ser irmã do namorado.
Mais tarde, Aninha pega no sono. Já havia almoçado, visto tevê e até tomado banho. A irmã de Frank era uma boa pessoa, especialmente com crianças, pois fazia alguns trabalhos sociais com menores carentes em uma ONG.
Após uns minutos, depois que Aninha adormecera, Meire não vê problema em dar uma rápida passada na casa de uma amiga ali perto. Se a menina dormira, pensou em não haver problemas em deixá-la a sós por alguns longos minutos, ou quem sabe umas horinhas, para abastecer os ouvidos da amiga e os seus também de conversas parvas, mas que as considerava bastante úteis.

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Aninha, sozinha no quarto de Meire, por alguns instantes, acha que está sonhado, por vezes acredita que está mesmo prestes a acordar. Ergue as pálpebras lentamente, e até os próprios cílios clarinhos consegue avistar. Observa de relance o vulto de alguém lhe analisando, porém, na cama macia, continua vencida pelo sono. Sente o colchão mover-se, ainda que estivesse solitária; mas como se um inseto asqueroso estivesse subindo por suas pernas, arregala os olhos já graúdos e caramelados, esfriando empalidecida.
E aquele mau presságio, que tanto temera, finalmente lhe alcança. Era a vítima cara a cara com o seu agressor.
Aguarde a continuação.
Você, mulher, sofre ou conhece alguém que sofra com a violência doméstica? Conheça o Projeto Raabe.

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